Cabanagem
Em pleno século XXI a Escola, em geral, continua mantendo um modelo tradicional – consequência de uma sociedade tradicional – que permanece dando ênfase à mera transmissão de conteúdo, mediante um grande verbalismo, pois não dá conta do acidente, do diferente. O motivo é que nesse modelo de ensino há uma padronização da figura do aluno enquanto alguém “normal” e com capacidade de memória suficiente para absorver os saberes transmitidos pelos professores. Assim, nesse modelo de escola a ideia de uno encontra-se dissociada da ideia de múltiplo, que é a manifestação inseparável, a metamorfose essencial, o sintoma constante do único. Mas a vida não é só acerto, mas sim também erro. E mais do que acertos e erros, a vida é o que é.
Diante disso não seria um erro o controle da vida por parte da técnica (imposição, intervenção) na medida em que só se visa o acerto? Não seria uma postura de normalização? Ora, o exercício da normalização constrange sempre, pois objetiva homogeneizar as multiplicidades, permitindo medir distâncias, determinar níveis, fixar especialidades e tornar úteis as diferenças.
Para isso torna-se necessário, contra a lógica moderna do cogito “penso, logo existo”, por dois motivos especialmente:
1) O pensamento não se separa da vida;
2) O pensamento não é superior à vida e a vida não é serva do saber.
Deve-se pensar contra a lógica mercadológica que em tudo vê ocasião para o lucro, também por duas razões:
1) A racionalidade econômica diz que se deve investir em nós mesmos enquanto capital humano;
2) De acordo com essa lógica, o especial torna-se de alto custo e de baixo lucro.
“Penso, logo existo”, de Descartes, em seu discurso do Método, tem no cogito a condição fundamental para a existência, condição essa que levaria ao discernimento. Numa direção convergente, questiona Kant: O que é o esclarecimento? E ele responde: É o