Butter
Tradução
Edmundo Barreiros
Para Betty Ann e Jim
A LIVRARIA
PROCURA-SE ATENDENTE
PERDIDO NAS SOMBRAS das estantes, quase caio da escada. Estou exatamente no meio do caminho. O chão da livraria está bem longe de mim, a superfície de um planeta que deixei para trás. O topo das estantes está bem próximo, e é escuro por lá. Os livros estão bem apertados uns contra os outros e não deixam a luz passar. O ar também poderia ser mais leve. Acho que estou vendo um morcego.
Estou me segurando pelo bem da minha adorada vida, com uma das mãos na escada e a outra na beira de uma prateleira, os dedos brancos com a pressão.
Meus olhos traçam uma linha acima dos nós dos dedos, para procurar entre as lombadas, e lá eu o vejo. O livro que estou procurando.
Mas deixe-me voltar um pouco.
Eu me chamo Clay Jannon e houve épocas em que raramente eu tocava em papel.
Ficava sentado à mesa da cozinha em casa e começava a procurar anúncios de emprego no meu laptop, mas logo uma aba do navegador piscava, eu me distraía e ia ver o link para uma longa reportagem de uma revista sobre uvas viníferas geneticamente modificadas. Na realidade, longa demais, por isso a acres-
centei à minha lista de leituras. Então, fui ver a resenha de um livro em outro link. Também a coloquei na minha lista de leitura, depois baixei o primeiro capítulo do livro, o terceiro de uma série de vampiros policiais. Bem, com os anúncios de emprego esquecidos, voltei para a sala de estar, botei o laptop em cima da barriga e fiquei o dia inteiro lendo. Eu tinha muito tempo livre.
Estava desempregado, resultado da grande retração no ramo das redes de alimentação que varreu os Estados Unidos no início do século 21, deixando em sua trilha cadeias de lanchonetes falidas e impérios do sushi desmoronados.
O emprego que perdi era na sede