Breve Análise do Desenho de Som em "O Pântano" de Lucrécia Martel
Em “ O Pântano” de Lucrécia Martel (assim como nos outros dois filmes da diretora) podemos observar como o som pode contribuir decisivamente para a criação de sentido nas obras cinematográficas.
Lucrécia constroe o clima principalmente por meio dos ruídos de cena. Ruídos estes que na maioria das vezes são compostos por sons que atribuem fluidez e musicalidade ao que vemos na tela. Como, por exemplo, no momento em que a personagem Mecha cai com as taças a beira da piscina e o som do vidro se quebrando se transforma em um tilintar agudo capaz de ser ouvido pela personagem Momi que está distante da situação.
As poucas vezes em que há trilha musical, ela aparece diegeticamente. Como, por exemplo, ainda a beira da piscina quando Isabel tenta ajudar Mecha a se levantar para ir até o carro e se inicia uma animada cumbia argentina que pouco depois vemos que vem do rádio do carro.
Nessa obra podemos destacar a importância dos sons que compõem as ambiências. A construção da identidade de cada espaço físico se torna muito importante, uma vez que os ambientes caracterizam e são reflexo das famílias de Mecha e de Tali. A casa de veraneio onde estão Mecha e sua família aparece muitas vezes acompanhada pelos sons que vêm de longe, da montanha. Pássaros, a tempestade que se aproxima, os insetos são sons que denunciam o silêncio que existe entre os personagens. Já a casa de Tali apresenta muitos sons ao mesmo tempo. São as crianças que falam sem parar, aparelhos domésticos barulhentos e o cachorro da vizinha que late não se sabe porque.
Além do desenho de som muito bem elaborado, em “O Pântano” podemos notar diversos momentos em que o próprio roteiro chama a atenção para o som através das ações dos personagens. Momentos como o em que duas meninas cantam em frente ao ventilador para distorcer suas vozes, ou, já no final do filme, pouco antes de Luciano cair da escada quando Tali pede silêncio para ouvir algo que