Brasileiro cordial
Paulo Nogueira
Leio no Jazeera – um excelente site e canal de notícias baseado no Catar – um texto sobre o Brasil. O título indaga: onde foi parar a famosa cordialidade brasileira?
O autor recolhe, no caso do Mensalão, coisas – insultos, maledicências, calúnias — que mostrariam que já não somos tão cordiais assim.
Primeiro, um depoimento. Quase quatro anos depois de vir para Londres, o brasileiro é, sim, reconhecido e admirado pela cordialidade. As pessoas costumam abrir um sorriso quando você diz que é brasileiro. Não à toa. O Brasil, imenso como é, jamais foi um país bélico, militarista, arrogante. Todas as religiões sempre conviveram no Brasil sem dramas.
Volto ao artigo do Jazeera. Onde foi parar o brasileiro cordial, então?
Minha suspeita é que está onde sempre esteve: nas ruas. Aqui, ali, em todos os lugares. O articulista se deixou enganar pelo tom belicoso do universo da política brasileira.
Aí, sim, e não é de hoje, vigora o ódio. Carlos Lacerda é o maior símbolo disso. Tanto quando militou na esquerda como quando passou para a direita, Carlos Lacerda combateu com uma agressividade extrema, cínica e, não raro, desonesta.
O “mar de lama” que ele infamemente atribuiu ao presidente Getúlio Vargas, que só se livrou de Lacerda dando um tiro no coração em 1954, é o retrato do homem que institucionalizou o ódio na política brasileira.
Lacerda conseguiu tudo com isso – exceto o que mais desejou: a presidência da república. Como Serra, ele se julgava um predestinado a ser presidente. Com o golpe de 1964, os militares suprimiram o debate político — e o ódio na política ficou como que em suspenso. Até pelas circunstâncias, os grandes políticos da oposição aos militares, como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, manobraram com cuidado suas críticas. Eram radicais da moderação.
A redemocratização foi gradativamente devolvendo o ódio à política brasileira. A ausência de um novo Lacerda impediu que as