Brasila
1. Reminiscências
"Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino".
— Juscelino Kubitschek
Como pensar Brasil sem Brasília? Olhar paras curvas dos edifícios e não lembrar Niemeyer? Hoje é quase impossível pensar em Brasil sem pensar em Brasília, pensar em Brasília e não pensar no "arquiteto das curvas". Contanto, apesar de grande parte dos desenho terem sido elaborado por Niemeyer, a construção da cidade foi um projeto em conjunto , sendo assim, não devemos esquecer-nos daquele que idealizou em mínimos detalhes a cidade que tomaria do Rio de Janeiro a posição de capital da República: Lucio Costa. "Era um rabisco e pulsava" disse então Carlos Drummond de Andrade ao ler o relatório e ver os desenhos desse grande arquiteto e intelectual brasileiro.
Todavia, existiria Brasília sem o trabalho árduo de 60 mil candangos, dentre os quais grandes partes emigrantes da região nordestina e centro-oeste brasileiro? Creiamos que não. Foram um milhão de metros cúbicos de concreto, cem mil toneladas de ferro redondo, milhares de sacos de cimento, quinhentos mil metros cúbicos de areia, dois mil quilômetros de fios, quatrocentos quilômetros de laminados, toneladas de madeiras e etc. Quem mais senão o trabalhador, com suas mãos calejadas, com sua face fitada pelo calor escaldante do sertão brasileiro dar-se-ia a construção dessa grande epopeia da cidade moderna, a cidade-jardim ideal que alguns julgaram terem ultrapassado o que Le Corbusier ditava como cidade ideal? Foram necessários sessenta mil candangos.
A região nordestina formada por nove estados — Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Sergipe e Bahia —, sempre fora tida como uma região abandonada pela República, influência, talvez,