Bourdieu & a educação
Síntese
Segundo Lahire, o corpo individual no qual se reflete o social, “tem por particularidade atravessar as instituições, os grupos, as cenas, os diferentes campos de força e de luta.”
Para ele a experiência de vida de um sujeito particular dificilmente pode ser deduzida do seu pertencimento a uma única coletividade ou de fato de estar inserido numa posição específica da estrutura social. Cada pessoa possui sua própria história particular, e cabe a ele como se deve lidar com grupos sociais.
Não se pode pensar o indivíduo contemporâneo sendo regido apenas por um único princípio de conduta. Ele considera que Bourdieu engessou a própria sociologia ao consolidar um único olhar sobre a teoria das disposições culturais, a teoria habitus.
Os indivíduos, segundo ele, não agiriam de forma homogênea nas muitas situações de vida, não agiriam coerentemente o tempo todo a partir de um sistema de disposições homogêneo, coerente e único. Apoiado no conceito de habitus, Lahire afirma que Bourdieu constrói um homem perfeito, enquanto a realidade demonstra ser o indivíduo altamente complexo.
Lahire considera que existem duas correntes de pensamento sobre a teoria da ação. Grosso modo, a primeira, baseada na unicidade do ator; a segunda, baseada na sua fragmentação interna. De um lado, pesquisa-se sobre a visão de mundo, a relação com o mundo ou a fórmula geradora das práticas; de outro, admite-se a multiplicidade de saberes incorporados, de experiências vividas, do "eu" e dos papéis interiorizados pelo ator. Segundo Lahire, o interesse principal da primeira posição é expresso por Bourdieu, pois para ele a teoria do habitus permite construir e compreender de maneira unitária as dimensões da prática que são freqüentemente estudadas de modo disperso, dando ênfase ao caráter sistemático e unificador das condutas. Lahire observa que é necessário estudar a dinâmica interna e afetiva de cada família, as relações de interdependência social e afetiva