Bourdieu: juristas, os guardiães da hipocrisia coletiva
Segue abaixo um texto do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), um dos teóricos mais citados na sociologia brasileira hoje, sobre o papel social das profissões jurídicas e das faculdades de direito. O texto permite um questionamento crítico da (re)produção de conhecimentos nas faculdades de direito. Mas para isso, é preciso conhecer minimamente o modelo teórico do autor. Sugerimos, a quem quiser conhecer melhor a teoria desse autor, a leitura também dos seguintes livros: O Poder Simbólico (principalmente o capítulo "A força do direito") e Razões Práticas (principalmente o capítulo "Espíritos de Estado: gênese e estrutura do campo burocrático").
A tradução do texto abaixo foi feita por Eduardo Emanoel Dall’Agnol de Souza, advogado, graduado em Direito pelo Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba). Você fez um bom trabalho, Eduardo!
OS JURISTAS, GUARDIÃES DA HIPOCRISIA COLETIVA[1]
Pierre Bourdieu
Uma das calamidades da ciência social é constituída por todas essas manifestações de pensamento dualista que se traduzem em pares de conceitos antagonistas: interno/externo, puro/impuro, normativo/positivo, axiológico/sociológico, compreensivo/explicativo, Kelsen e Marx, e toda sorte de oposições da mesma espécie. Ao declarar em seguida minhas intenções, direi que meu trabalho, sem que eu tenha planejado fazê-lo, tem como conseqüência, ao meu modo de ver, superar essas oposições. Se tomo a oposição entre Kelsen e Marx, que quase recobre a oposição entre o interno e o externo, é importante saber que se volta a encontrá-la em toda parte, sob formas e com bases sociais semelhantes, no âmbito da sociologia da arte, no âmbito da sociologia da ciência, no âmbito da sociologia da filosofia, no âmbito da sociologia da literatura etc. O que permite traduzir de um espaço a outro suas aquisições.
Creio que deve ser rechaçada também a alternativa do direito como ideologia ou como ciência. Dizer que o direito é uma