BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Editora da USP, 1979, p. 5-29.
No capítulo 1, “Memória-sonho e memória-trabalho”, a autora se propõe a analisar a memória de mulheres e homens idosos que pressupõe a existência de um estofo social da memória. Para tanto, faz um diálogo com vários autores sobre a concepção do que é memória. Na exploração sobre Henri Bergson, ressalta-se a fenomenologia da lembrança, a autoanálise voltada para a experiência da percepção estabelecendo o nexo entre imagem do corpo e ação. Para ele, a memória permite a relação do corpo presente com o passado e, ao mesmo tempo, interfere no processo atual das representações. A memória se constitui como a reserva crescente de cada instante e que dispõe de nossa experiência adquirida. Bergson utiliza a figura de um cone invertido para representar a diferença entre o espaço profundo e cumulativo da memória e o espaço raso e pontual da percepção imediata, onde as lembranças “descem” para o presente, ou seja, a volta ao passado se dá através do presente. Ressalta também o conceito de memória-hábito – esquemas de comportamento guardados pelo corpo que se valem automaticamente na sua ação sobre as coisas, e as lembranças isoladas – independentes de quaisquer hábitos. Enfim, Bergson propõe a entender as relações entre a conservação do passado e a sua articulação com o presente, a confluência de memória e percepção, e a memória como mecanismo de conservação do passado. Outro autor explorado é Maurice Halbwachs que afirma que a lembrança é a sobrevivência do passado. Analisa a relação entre memória e história pública bem como os quadros sociais da memória. Para o autor, a memória do indivíduo depende de suas relações sociais com a família, escola, igreja etc., ou seja, das relações com os grupos de convívio e os grupos de referência peculiares a esse indivíduo. A menor alteração do ambiente atinge a qualidade íntima da memória, sendo assim, amarra a memória da pessoa à