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É inegável o expressivo crescimento da luta pela terra no Brasil na década de 1990, no contexto da implementação das políticas neoliberais em nosso país. Os números de ocupações de terra, de acampamentos, de manifestações públicas em favor da reforma agrária etc. confirmam essa informação. Relacionado diretamente a esse fato, está o crescimento do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que se transformou na maior expressão política da luta pela terra e pela reforma agrária e no mais importante movimento social de oposição ao projeto neoliberal no
Brasil.
O crescimento da luta pela terra e do MST ocorreu, sobretudo, a partir de meados da década de 1990, durante o governo Fernando Henrique
Cardoso. Tal crescimento foi possível graças à conjunção de diversos fatores, dentre os quais poderíamos destacar: o caráter aparentemente mais democrático do governo FHC, quando comparado, por exemplo, com o governo Collor, que reprimira duramente os movimentos sociais; os efeitos sociais perversos das políticas neoliberais que, ao provocarem a falência de
∗ Doutor em Ciências Sociais e Mestre em Ciência Política pela UNICAMP; professor do
Centro Universitário Padre Anchieta e das Faculdades Hoyler; autor do livro A estrutura sindical no campo (Campinas: Ed. da Unicamp, 1998) e da tese de doutorado, A trajetória política do MST: da crise da ditadura ao período neoliberal (Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas. Campinas: Unicamp, 2005). milhares de pequenos produtores agrícolas e o aumento do desemprego rural e urbano, possibilitaram ao MST — e também aos demais movimentos de luta pela terra existentes no Brasil – recrutar essa massa marginalizada e expandir suas bases sociais; a ideologia anticapitalista do MST, que permitiu ao movimento resistir à hegemonia neoliberal e, por fim, o enfraquecimento político da burguesia agrária e dos proprietários de terra ao longo da década de 1990.1
Neste artigo, nosso objetivo é discutir