Bocage
Foi um dos maiores sonetistas portugueses. Os seus inimigos acusam-no, em 1797, de ser um "herético perigoso e dissoluto de costumes" por causa do seu poema Pavorosa ilusão da Eternidade. É denunciado à Inquisição e encarcerado no Limoeiro como autor de "papéis sediciosos" contra a segurança do estado. Sai da prisão bastante abalado e morre em Lisboa, na miséria e com apenas 40 anos de idade.
Bocage foi, possivelmente, o maior representante do arcadismo lusitano. Embora ícone deste movimento literário, é uma figura inserida num período de transição do estilo clássico para o estilo romântico que terá forte presença na literatura portuguesa do século XIX.
Quatro Sonetos, de Bocage
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.
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