Boal e a arte - um breve estudo da estética do oprimido
Um Breve Estudo da Estética do Oprimido
Por Flavio Sanctum1
1. PENSAMENTO SENSÍVEL E PENSAMENTO SIMBÓLICO:
O que fundamenta a filosofia de Boal é a existência de duas formas de pensamento, o Pensamento Sensível, representado pelos sentidos, e o Pensamento
Simbólico, representado pelas palavras. Para Boal, desde que nascemos somos estimulados a perceber o mundo de forma sensível, através de nossas sensações. Uma criança que ainda não consegue falar, se comunica através das percepções que tem do mundo e as que transmite. O primeiro contato de um bebê é com sua mãe, ainda na vida intra-uterina. Nesse pequeno espaço interno, o bebê sente tudo que sua progenitora transmite. Medos, tristezas, alegrias, frustrações, vícios, amor, tudo é percebido pelo pequeno ser antes mesmo de sua chegada ao mundo. E a comunicação já tem início desde esse princípio. Após o nascimento – e como diz Boal (2009): “A Estética já nasce com o bebê” – ele se comunica através do toque, do cheiro, do olhar. Mesmo sem utilização do simbólico essa comunicação pode ocorrer de forma eficaz. Indo além, as crianças podem criar uma série de formas comunicativas para chamar a atenção dos pais: o choro de manha, por exemplo, é completamente diferente do choro de fome ou de dor. E a criança sabe, mesmo que inconscientemente, que falseia um choro para adquirir algo que deseja.
Ainda na infância, a criança, livre de preconceitos e imposições sociais impregnadas em sua personalidade, pode exercer sua criatividade. Utilizando seu pensamento sensível, na praia, constrói esculturas de areia, castelos com torres e pontes, que logo serão destruídos pelas ondas do mar. O que não a impede de voltar a esculpir
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Flavio Sanctum é pedagogo, escritor, ator, diretor teatral e compõe a equipe de curingas do Centro de
Teatro do Oprimido CTO. Mestre em Estudos Contemporâneos da Arte pela UFF e doutorando em Artes
Cênicas pela UniRio.
na terra molhada e novamente erguer