boa coisa
A História da Cultura esteve por séculos marcada pelo mesmo caráter elitista da História Social e Política. Cultura era entendida como uma criação intelectual realizada por “grandes homens”, mais ou menos desvinculados do contexto histórico. E também como uma criação letrada, pois mesmo as artes, essencialmente visuais, pressuporiam certo conhecimento para ser “compreendidas”. No entanto, as transformações do último meio século nos veículos de divulgação cultural (rádio, televisão, cinema, jornais, revistas), e mais recentemente o diálogo da História com a
Antropologia, romperam aquela visão estreita. Surgiram desde então muitos trabalhos interessantes, mas geralmente específicos, sobre vários tipos de manifestação cultural medieval, com poucas análises de conjunto como a que somos obrigados a tentar aqui.
Para tanto, entenderemos cultura como tudo aquilo que o homem encontra fora da natureza ao nascer. Tudo que foi criado, consciente e inconscientemente, para se relacionar com outros homens (idiomas, instituições, normas), com o meio físico (vestes, moradias, ferramentas), com o mundo extra-humano (orações, rituais, símbolos). Esse relacionamento tem caráter variado, podendo ser de expressão de sentimentos (literatura, arte), de domínio social (ideologias*), de controle sobre a natureza
(técnicas), de busca de compreensão do universo (filosofia, teologia).
Obviamente, todas essas formas se imbricam, se explicam, se reproduzem, se alteram. Constituem um todo, uma globalidade, cada uma delas só ganhando sentido em função das outras, em função do conjunto. Cultura, portanto, é exatamente esse complexo, e não uma ou outra de suas manifestações isoladamente. Mas esse conjunto não é monolítico. No caso da Idade Média, para entendê-lo deviemos considerar três áreas culturais e suas inter-relações.
As áreas culturais
De um lado, a cultura erudita, de elite, cultura letrada que pelo menos até o século XIII foi