Bla bala bla
De uma nuvem de algodão-doce, no terço final das águas de março, nasceu uma menina. Um pouco atrapalhada, um pouco mais desajeitada. A menina cresceu e foi morar num lar perfeito. Com janelas perfeitas, com pais perfeitos, com amores-perfeitos.
A menina brincava e acreditava que era tudo perfeito. Feito para ela. No universo dela. Numa dessas manhãs de não saber porquê, a menina resolveu se aventurar por um arco-íris gigante. Lá conheceu gente de todos os povos e de todos os cheiros. Todas as cores.
Mas a menina daqui tinha muito medo. Medo de cair. Medo de dançar, medo de ficar sozinha e morrer. Por causa desse medo e curiosidade, a menina daqui resolveu aprender a cair, aprender a dançar. Aprender a morrer. Mas ficar sozinha? Isso ela não podia.
Diferente da menina de lá, essa menina não tinha como curar o mundo, nem a si mesma. Não podia prever nada. Então ela não sabia para que exatamente tinha nascido.
Como não sabia para o que tinha nascido, a menina daqui resolveu fazer de tudo. Aprendeu a escrever poemas, fez aula de dança, teatro. Teve umas 15 profissões. E mesmo assim, não encontrava o que tanto queria.
Então a menininha resolveu buscar sua segurança no amor. E amou com muita intensidade. Amou a todos os que foram se achegando. E amou, desamou; foi amada, desamada, amada...
Vendo que não podia ser o amor aquilo que faz tanto desamor, a menininha se retirou do mundo. Não queria mais saber do exterior. E criou uma imensidão dentro de si, com vilas e reinos, com heróis e princesas, fadas e duendes. Parecia tão mais seguro viver num mundo em que ninguém duvidasse de nada, afinal tudo partia da dúvida.
Então a menininha se dedicou a cuidar dos animais do reino em que vivia. Ao menos estes sempre vinham com amor. Não poderiam compreender qualquer coisa que fosse des. Desamor. Desrespeito. Desespero. Não poderiam compreender qualquer coisa que fosse deste mundo.
Cuidando dos animais, a menininha conheceu um homúnculo. E cismou que