Birras e Mordidas
Glaciene Januário Hottis Lyra1
Como sabemos, as formas de relacionamento nos primeiros anos de vida podem marcar decisivamente nossas futuras relações com o mundo.
A capacidade do adulto de lutar por seus objetivos, por exemplo, está muito ligada à maneira como a criança, a partir de um ano, luta por suas coisas.
Esse despertar da combatividade na criança pode criar situações incômodas. Porque, nessa fase, LUTAR É MORDER. E morder dói, deixa marcas. E os pais ficam muito encucados com isso.
Se o filho morde: “Meu Deus, será que ele não vai ser violento”.
Se é mordido: “Então ele vai passar a vida deixando que os outros batam nele?”
É sobre isso que vamos falar. E começar lembrando que uma das primeiras formas de relação de uma criança com a outra é a disputa por um objeto qualquer. E essa disputa é sempre em função do objeto que ela quer ter, e não propriamente contra a outra criança.
É um momento muito importante para ambas. É a primeira manifestação de combatividade, o uso de uma força interna para conseguir algo por conta própria.
Uma violência basicamente positiva, embora o método, nesta fase, não seja dos mais elegantes: A MORDIDA.
Por que a criança morde? Simplesmente porque sua força ainda é oral.
Neste contexto, a mordida é primordialmente uma força de combatividade e não agressão ao outro. A prova é que a criança morde em qualquer lugar: no braço, no ombro, nas costas.
Agora, vamos supor que a criança esteja disputando alguma coisa (um chaveiro, caneta) com um adulto. Ela logo percebe que o adulto é forte, e que sua força interna no momento é menor que a dele.
A BOCA não é nada contra aquele gigante. Então o que ela faz? FAZ BIRRA. Grita, se deita no chão, bate o pé... É a única forma que ela encontra de manifestar sua força interna, sua capacidade de lutar por um objetivo. A birra é a mordida psicológica e o inimigo é fisicamente mais forte.
Os pais em geral não estão preparados para viver estes momentos.
Nem para a