Biografia e sua instrumentalidade
Jonaedson Carino*
RESUMO: O presente artigo trata do gênero biografia, associando-o à educação por meio de um pressuposto: o de que as construções biográficas contêm uma instrumentalidade educativa, podendo ser apreciadas no contexto de uma pedagogia do exemplo.
Parte integrante dos estudos de seu autor que culminaram em tese de doutoramento na UFRJ, o trabalho contém uma síntese histórica da trajetória do gênero biográfico segundo periodização proposta por Madelénat, além de apresentar uma fundamentação teórica de análise das biografias apoiada, especialmente, em
Wilhelm Dilthey. O artigo pretende, ainda, destacar a pertinência e a relevância do estudo das construções biográficas, notadamente em sua relação com a educação.
Palavras-chave: Biografia, exemplaridade, vida, educação
Introdução
Biografias fascinam. Raros são os que se quedam indiferentes diante das vicissitudes de uma vida. Poucos conseguem manter-se alheios a embates, fracassos e vitórias vividos nas existências alheias. Mesmo os detratores do gênero traem seu aparente desinteresse: geralmente sua crítica dirige-se menos aos males intrínsecos aos perfis biográficos do que a seu papel de instrumento de um “odioso individualismo”.
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Professor Adjunto na Faculdade de Educação da UERJ e no Mestrado em Educação da Universidade Católica de Petrópolis.
Educação & Sociedade, ano XX, nº 67,Agosto/99
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Quanto ao sucesso das narrativas de vida, é inegável, posto que se mantêm em evidência há mais de 2.000 anos. Desde os tempos do neoplatônico Damaskios, no século V a.C., a quem se atribui a cunhagem da palavra biografia (de bios, vida e gráphein, escrever, descrever, desenhar), a narrativa de trajetórias individuais permanece em destaque, suscitando interesse, quaisquer que sejam sua forma ou as intenções que motivam sua elaboração.
Por que fascinam as biografias? Antes, talvez se devesse perguntar: por que fascinam as