Biogeografia e Tradições Alimentares
1 Introdução O presente trabalho busca descrever parte da relação entre a prática de tradições alimentares e os aspectos relacionados á Biogeografia envolvidos na produção e consumo de alimentos, por diferentes grupos humanos. Para tanto, utilizaremos parte da América do Sul em sua porção conhecida como “Cone Sul” compreendida por Brasil Argentina e Uruguai como recorte espacial e analisaremos a relação entre diferentes tradições alimentares existentes na região e seu papel como elemento dispersor e introdutor de espécies a partir da colonização europeia da região como recorte cronológico.
Para evidenciar as relações entre tradições alimentares e suas correspondentes consequências biogeográficas serão analisadas duas espécies intimamente relacionadas a sus scrofa o javali e seu correspondente neste processo a sus domesticus o porco doméstico e a formação de um híbrido de ambos que mais tarde se mostrará altamente problemático o javaporco. Esse neologismo faz referência a um animal resultado de um processo de hibridização ocorrido a partir das espécies que foram introduzidas na América e que de alguma forma encontram um caminho para o ambiente natural e regridem a seu estado feral. As possíveis razões desse processo serão avaliadas mais a frente.
1.1 A tradição alimentar
Inicialmente entende-se como tradição alimentar um conjunto de práticas de preparo e seleção de alimentos que são uma composição de aspectos culturais e biogeográficos, que levam em consideração tabus, religião, economia e disponibilidade para citar apenas os principais fatores. A tradição alimentar principal que norteia esse trabalho é a brasileira que é considerada uma composição do “Cardápio indígena, Dieta africana e Ementa portuguesa” (CASCUDO 1983) e pode ser analisada em seu todo com algum grau de generalização apesar de seu forte conteúdo regional.
As práticas alimentares não podem ser observadas apenas do ponto de vista biológico, sendo o