Para realizar o projeto, o arquiteto Borsói considera principalmente as pessoas às quais se destina e as suas circunstâncias sociais, econômicas e culturais. No caso da Comunidade de Cajueiro Seco, o arquiteto depara-se com cidadãos excluídos social e economicamente, mas com um extenso repertório cultural. Diante dessa situação, como atuar para solucionar a reinstalação da Comunidade de Cajueiro Seco? Borsói pode realizar um projeto decidido preliminarmente e individualmente, fixando soluções habitacionais genéricas, para pessoas e condições igualmente genéricas. Mas o faz de outro modo: com um projeto decidido durante o seu processo de realização e coletivamente, apontando soluções habitacionais relacionadas com pessoas e circunstâncias específicas. Assim, embora a situação da comunidade seja de extrema pobreza, pretende-se demonstrar que a sua população tem a capacidade de superar essa limitação através dos seus próprios conhecimentos e possibilidades. O arquiteto adota a postura de propulsor desse processo, que deve ser assumido pelos próprios habitantes. Para tanto, é necessário que esses habitantes tenham tanto condições técnicas como materiais para promover o processo. Por isso é fundamental que eles o dominem em todas as suas instâncias, e assim garantam a possibilidade de atuar com autonomia3. Desta maneira o arquiteto está transferindo às pessoas a possibilidade de transformação da sua própria realidade. Borsói afirma que essa postura surge "pela constatação de que esses grupos sociais não possuem conhecimento além daquele que resulta da sua própria necessidade, dentro da sua realidade, do seu conhecimento artesanal e da utilização das suas próprias mãos, foi-nos possível desenvolver o trabalho." (BORSÓI, 1984: 51) A autonomia também se refere à mão-de-obra. Com técnicas e materiais acessíveis, os habitantes podem atuar individualmente ou coletivamente para realizar as suas casas. No caso de Cajueiro Seco, toda a família pode se envolver com o processo