biblioteca publica
Peço-lhes que formem em suas mentes a seguinte imagem. Estamos no salão de uma biblioteca pública municipal. Numa cidade nova, fundada há cerca de quarenta anos, capital de um Estado em acelerado crescimento. Nesse salão de leitura encontram-se umas duas dezenas de jovens, estudantes do primeiro e segundo graus. À direita, numa sala separada por um balcão, acham-se dispostas estantes de livros, vigiadas por atentos servidores. Os leitores não têm livre acesso às estantes. À esquerda, na sala de trabalho dos funcionários, o catálogo da biblioteca. Os leitores não têm acesso ao catálogo. Os estudantes, disciplinada e mecanicamente, copiam de esfrangalhadas enciclopédias as suas “pesquisas”, com o indicador esquerdo percorrendo as linhas do texto enquanto a direita transcreve os passos considerados relevantes. Mãos e braços movem-se com a articulação de um pantógrafo. As mentes estão distantes. No centro do salão, dominador, mas desleixadamente sentado no canto de uma mesa, um guarda de segurança, uniformizado e apetrechado, impõe respeito à integridade dos livros utilizados, enquanto a mão direita repousa, ostensivamente, sobre o cabo do revólver no coldre pendente da cintura. Todos os que entram naquele “templo do saber” não podem esquivar-se dessa visão. Espaço e tempo dessa imagem: agosto de 1978, Goiânia, capital de Goiás.
Ali não trabalham bibliotecários devidamente qualificados. O diretor é um escritor que frequenta as rodas do poder. Como é amante da boa leitura foi requisitado de suas funções em outro órgão. O seu salário é duas vezes superior ao de um bibliotecário do serviço público federal. E por que ele não se encontra aqui na biblioteca? Porque a biblioteca funciona muito bem e apenas de vez em quando ele dá um pulinho aqui para despachar no seu gabinete. E por que tantos controles? Por que não há livre acesso às estantes? Por que não há livre acesso nem mesmo