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Em 1914, após uma viagem conjunta com António Nascimento à Europa central, Marques da Silva iniciou o projecto do edifício, que ganhou uma forma referida directamente às experiências dos grandes armazéns de Paris: a espacialidade interior explora transparências e perspectivas visuais capazes de cenografar os objectos de consumo.
A localização do edifício, no ângulo das ruas Passos Manuel com Santa Catarina, oferecia ao edifício uma posição urbana privilegiada para expor a ordem monumental de um grande arco, solução que Marques da Silva já tinha ensaiado em vários projectos anteriores. Trata-se de uma estratégia de projecto que procura, em edifícios construídos na ordem contínua de um plano de fachadas de rua, provocar o sobressalto de uma monumentalidade original. A duplicação do arco, contudo, não deixa de provocar uma grande ambiguidade formal, como se fosse possível tornar banal a monumentalidade.
Outro aspecto significativo do edifício é a utilização da ossatura de betão armado como sistema construtivo de base, sistema cuja sofisticação estrutural abre caminho aos dispositivos espaciais interiores e ao apuramento dos recursos formais exteriores. Abandonar as estruturas construtivas mistas em pedra e madeira ou pedra e ferro permitiu, com eficácia, ampliar a gama de espessuras dos pilares e vigas, oferecendo ao arquitecto os recursos necessários para explorar a expressividade das formas.
Entre o programa funcional reflexo de uma nova era de trocas comerciais massificadas, a adopção de um sistema construtivo em franca ascensão e o compromisso entre as novidades e as práticas de desenho e projecto da tradição académica, os Armazéns Nascimento ensaiam uma síntese impossível e constituíram-se como