Bergson e a vida:criaçao e memória
Textos selecionados do filósofo ajudam a entender seus labirintos do tempo
Regina Schõpke
O filósofo francês Henri Bergson (1859-1941) ficou conhecido, entre outras coisas, por se opor à teoria da relatividade de Einstein. Digamos que a noção de "espaço-tempo", trazida pelo físico alemão, foi posta em xeque de um modo muito profundo, ainda que a polêmica não tenha sido levada muito a sério pelos cientistas (que desde o século XIX vinham desautorizando a filosofia como saber). De qualquer modo, não é equivocado supor que essa discussão tenha influenciado o químico contemporâneo Ilya Prigogine que, como Bergson, se opõe à idéia de um tempo submisso à matéria ou associado a ela, defendendo a existência plena de um tempo em si, que corre sem cessar e é responsável pelo fenômeno da irreversibilidade (que quer dizer, em poucas palavras, que nada pode voltar ao seu ponto inicial, que nada pode andar para trás).
Sem dúvida, a filosofia de Bergson tem um valor inestimável, não apenas pelas questões que coloca sobre o tempo (entendido como duração contínua e ininterrupta), mas também por sua reflexão em torno da memória, da consciência e, sobretudo, da matéria. Defendendo a existência de um "élan vital" que cria incessantemente todas as coisas, Bergson acredita, tal como Darwin, na evolução do universo, embora no caso do filósofo francês essa evolução seja resultado da ação do élan ou impulso vital sobre a matéria bruta. Trata-se, na verdade, de uma "evolução criadora", onde tal impulso, ainda que seja uno, cria continuamente, a partir de séries divergentes, a novidade e a diferença. É nesse sentido que Bergson diz que "a vida é pura zona de indeterminação".
É claro que as semelhanças entre Bergson e Darwin restringem-se apenas à idéia de evolução, já que para o primeiro existe uma teleonomia no interior da natureza, ou seja, uma intenção "a priori", uma finalidade que determinaria a evolução. Para Darwin, ao contrário, o