Berenice Abreu sobre os Jangadeiros do Ceará em visita a Vargas

O texto de Berenice Abreu de Castro Neves analisa a jornada de quatro jangadeiros que saem do Ceará em direção ao Rio de Janeiro com o intuito de encontrar o presidente Getúlio Vargas e mostrá-lo sua situação e reivindicar o que lhes era por direito: a segurança do cumprimento das leis trabalhistas implantadas pelo governo do presidente.
A autora primeiramente descreve o contexto social onde os quatro, Jacaré, Mané Preto, Jerônimo e Tatá, se encontravam. Ela faz questão de apontar que eles não eram isolados do mundo “civilizado” e tinham vínculos com autoridades locais, o que é de grande relevância para a possibilidade da realização da viagem. Berenice presume que Jacaré tenha conhecido as ideias e ações do governo através do rádio, que foi de grande eficácia para a disseminação e consolidação do plano varguista.
O objetivo dos programas radiofônicos era difundir a legislação social como uma obra-prima de clareza governamental (Gomes, 1988), e é interessante perceber que mesmo nessa comunidade pesqueira, afastada do centro político brasileiro, Vargas era ouvido, conhecido e aclamado.
Jacaré tinha ainda a intenção de denunciar irregularidades que discrepavam-se das novas leis trabalhistas implantadas e também de ir atrás das promessas governamentais feitas para sua classe (como a criação de escolas de pesca e doação de barcos motorizados), ele compreendia que tinha direitos por ser também trabalhador honesto. Dessarte, a autora explicita a advertência de José Murilo de Carvalho sobre basear-se no conceito maniqueísta do Estado.
Os jangadeiros enxergavam-se no discurso do presidente, não eram “bestializados” e a sua relação com o Estado lhes dava o que era demandado. O sucesso da receptividade da mensagem para os pescadores é explicada pelos seus códigos de afetividade, costumes e elementos histórico-culturais, que foi de encontro com com o que era passado pelo governo presente (Capelato, 1998).
A viagem foi realizada em uma jangada de piúba - mesmo