Belluzzo
Página 111
Maria Conceição Tavares e Luiz Gonzaga Belluzzo
A Mundialização do Capital e a Expansão do Poder Americano
Formação e Expansão do Sistema Capitalista.
O circuito do capital mercantil articulou a primeira "economia mundo" européia em simultâneo com a formação dos Estados Nacionais Modernos no chamado 'longo século XVI'. Estes dois movimentos (o do capital e o dos Estados) essenciais à formação do sistema capitalista não se confundem entre si. A Europa foi progressivamente integrada pelos circuitos do capital mercantil, cujo movimento era periodicamente bloqueado pelas guerras intraeuropéias. Os banqueiros tiveram um duplo papel, o de agentes da expansão capitalista e o de financiadores das guerras e da expansão ultramarina dos Impérios. Vários bancos quebraram com as derrotas dos príncipes ou com os excessos de gastos do poder imperial em territórios de onde não se podiam extrair impostos e excedentes mercantis suficientes para o pagamento das dívidas. A localização e o deslocamento das principais praças financeiras tem muito a ver não só com as rotas do capital mercantil, mas com os caminhos dos Impérios. Portugal e Espanha tinham burguesias nacionais fracas e tiveram de se apoiar nos banqueiros do Mediterrâneo para as suas expansões ultramarinas. A Holanda forjou o seu Estado Nacional na defensiva contra o Império Espanhol, mas possuía uma burguesia forte e altamente internacionalizada desde que o centro financeiro europeu se deslocara para Amsterdã (a expansão européia do império de Carlos V custara a sobrevivência dos banqueiros árabes, italianos e alemães). Podemos dizer que a expansão mundial do capital teve, na Companhia das Índias Holandesas, a sua primeira grande empresa multinacional. No entanto a Holanda, não tendo por trás um projeto de Estado Nacional forte, não conseguiu