BELEZA AMERICANA E PERSONALIDADE
O filme inicia com Lester, dizendo as seguintes palavras, essa é minha vizinhança. Essa é minha rua. Essa é minha vida. Eu tenho 42 (quarenta e dois) anos e, em menos de 01 (um) ano, estarei morto. “E, de certa forma, eu estou já morto.” Trata-se, sem dúvida, segundo a qual “se vive de morte”, assim como também se pode “morrer de vida”.
Lester, de uma forma ou de outra, desde o início está morto. Ele transmite uma vida afetivamente seca. Seu imaginário é pobre. Sua vida está marcada por um grande vazio existencial. Sua monotonia, sua postura é infantilizada perante a esposa, Carolyn, assim como também se mostra inconseqüente com relação ao emprego, pouco usufruindo dos vínculos, sempre escassos e superficiais, com sua filha Jane.
Carolyn, por sua vez, é uma mulher, padronizada e matriarca, que se sustenta por slogans e se deixa levar por aparências e status. Do ponto de vista psicológico, ela apresenta mecanismos emocionais de baixa densidade afetiva. É superficial, fantasiosa. Presa ao desejo do passado produz uma fissura por sucesso. Por isso, ao conhecer um corretor de imóveis o rei dos imóveis, fica inebriada pelo mundo das aparências, estabelecendo um relacionamento sem qualquer perspectiva a não ser a traição como se Lester fosse à única fonte de todas as suas frustrações como esposa, mãe e mulher.
Jane, ao mesmo tempo confusa e frágil, está em busca de identidade no espaço de uma família e da sociedade, afetivamente ressentida. É uma adolescente cercada de conflitos por todos os lados. Expressa sentimentos odiosos contra o pai, visto como um nada, um idiota. “Quero acabar com a raça dele,” ela diz para o namorado, Ricky Fitts, que de modo francamente psicótico propõe: “Quer que eu mate ele para você?”. Jane, “Quero”.