Baudelot e Establet
Por Ana Maria F. Almeida
Tradução de Daniela Ferreira
Revisão Técnica de Ana Maria F. Almeida
Tornar-se sociólogo
Em primeiro lugar, eu gostaria de saber como vocês chegaram à sociologia. Vocês entraram na École Normale Superièure juntos ou separados? Foram contemporâneos no Liceu Louis le Grand? Faziam parte de um mesmo grupo de amigos?
O que vocês faziam nessa época? Como vocês explicam sua aproximação com a sociologia? ROGER – O período em que nos conhecemos, entre 1958 e 1962, era uma época, para os estudantes que nós éramos, dominada por um único fenômeno, a guerra da Argélia. Essa guerra nos preocupava. Preocupava muito o meio estudantil pela seguinte razão: a partir de 1956, o contingente francês foi chamado a combater na Argélia. Então, os militares franceses, todos os franceses, todos os cidadãos franceses do sexo masculino deviam partir para a Argélia. Ora, sendo estudantes, nós nos beneficiamos de um enorme privilégio, que era le sursis de cinq ans que permitia continuar os estudos e não ir para a Argélia. Isso produziu um racha bastante rápido e nítido no meio estudantil. Havia certo número de estudantes oriundos dos meios privilegiados, das grandes Écoles científicas, de engenharia, das faculdades de direito, que pensava, em primeiro lugar, que era normal ser privilegiado já que éramos estudantes. Em segundo lugar, eles eram em
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Entrevista com Christian Baudelot e Roger Establet, pp. 179-195
1.Ratonnade é uma violência exercida contra norte-africanos ou outros grupos étnicos ou sociais (N.R.).
2.Capital da Argélia
(N.R.).
3. Lei que impôs à Argélia o regime de propriedade de terras vigente na França, anulando, em conseqüência, a legislação tribal e/ ou mulçumana em vigor até então. Essa lei transformou de um golpe as terras indivisíveis em bens individuais que podiam ser comercializados. Como resultado, em poucos anos
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