Barthes
O sujeito apaixonado é atravessado pela idéia de que está ou vai ficar louco. Roland Barthes (FDA, 1978: 186) A visão que tenho do discurso amoroso é uma visão essencialmente fragmentada, descontínua, borboleteante. (Barthes, O Grão da Voz, 2004:401)
Aos estilhaços, intertextualidades e vozes, como em Le plaisir du texte, o livro Fragments d’um discours amoureux (1977), de Roland Barthes oferece-se à leitura distraída do amor. O leitor, ao folheá-lo, escolhe múltiplas formas para caminhar entre os aforismos, entre os fragmentos, entre “as rajadas de linguagem, que lhe brotam graças a circunstâncias íntimas, aleatórias” (FDA, 1978, p. 12)1. Este livro, é, segundo o próprio autor:
[...] episódios de linguagem que giram na cabeça do sujeito enamorado, apaixonado, e esses episódios se interrompem bruscamente por causa de tal distância, tal ciúme, tal encontro frustrado, tal espera insuportável que ocorrem, e nesse momento essas espécies de pedaços de monólogo são quebrados e se passa a outra figura. Respeitei o descontínuo radical dessa tormenta de linguagem que se desencadeia na cabeça amorosa. É por isso que recortei o conjunto em fragmentos e coloquei estes em ordem alfabética. [...] É, pois, um livro descontínuo que protesta um pouco contra a história de amor (Barthes, 2004, p. 401).
Nessa rede de “dis-cursos” ou citações romanescas, tudo no livro, surge como “algo que se leu, ouviu, experimentou”. (FDA, 1978, p. 12). “Pouco importa, no fundo, que a dispersão no texto seja todas as citações farão alusão a abreviatura FDA - Fragmentos de um Discurso amoroso. Edição portuguesa e tradução de Isabel Gonçalves, Lisboa, Edições 70, 1978.
1
rica aqui e pobre ali: há tempos mortos, muitas figuras modificamse; algumas, sendo hipóstases2 de todo o discurso de amor, possuem a própria raridade - a pobreza -