Barca do inferno
Querida Lisete,
Escrevo-te aqui do além, infeliz… Este sentimento permanece em mim todos os dias e afoga-me nesta mágoa imensa, como um barco naufragado no oceano.
Tudo aqui parece escuro, eras tu que iluminavas a minha vida !
Agora apercebi-me que és como a minha sombra. Quanto mais fujo de ti, mais corres atrás de mim. Quanto mais eu te tentava agarrar, mais tu conseguias enganar-me e escapar-me por entre os dedos. Antes éramos um só, ainda sinto a fragrância de um verdadeiro amor, pelo menos de minha parte.
Hoje só não quero sentir o teu odor, tresandas a traição, enganos, esquemas e mentiras. Estou agora a sentir a dor das feridas abertas, de todas as facadas que me deste durante todo este tempo, verdades e realidades que tentaste a todo o custo esconder-me.
Como te posso perdoar? Quando tu fizeste tudo nas minhas costas, como se tivesse de olhos vendados para o mundo? Cada vez que penso em tudo, compreendo que as feridas saradas tornam-se cada vez maiores e mais sensíveis à dor. Mas isto vai passar e eu estou cansado de correr para fugir da tua sombra e deste pesadelo enorme que atormenta a minha vida. Por isso, quando chegar a tua hora e vieres para aqui, sim, porque uma pessoa como tu merece estar num sitio destes, vou passar por ti e estarás no chão, rastejando aos meus pés para voltar, pois não arranjas ninguém melhor que eu, e nesse momento só conseguirei pisar-te e passar por cima de ti , porque afinal és só uma sombra e estas mudam consoante a posição do sol…
Obrigado por me fazeres feliz enquanto estava vivo, apesar de tudo continuo a amar-te.
Adeus Lisete