BARBARA ESCROTA

1156 palavras 5 páginas
QUESTÃO RACIAL, A REFORMULAÇÃO MULTICULTURALISTA DO MITO DA BRASILIDADE E A SUA ALIANÇA COM O ECONOMICISMO LIBERAL Como o leitor teve a oportunidade de apreender na leitura dos capítulos dedicados por Jessé Souza especialmente a esse tema, o que chamamos de “mito da brasilidade” é a nossa narrativa sobre nós mesmos articulada por Gilberto Freyre e cujo maior ideólogo de ressonância na atualidade é Roberto DaMatta. Trata-se de uma interpretação do Brasil de cunho folclorista, enfocada nos costumes, que procura nos definir com base nas nossas “heranças” culturais da “matriz civilizacional” ibérica. Essa interpretação está vinculada à necessidade de criação e sustentação de uma identidade nacional brasileira. Nossas crenças de que somos mais “quentes”, mais “amistosos”, mais “etc.” são traduzidas em termos de uma (aparente) teoria social. A noção de cordialidade é o conceito com o qual se faz essa tradução. Afirma-se que a singularidade do Brasil frente aos Estados Unidos e à Europa é a “cordialidade” do povo brasileiro, nosso caráter mais emotivo e menos racionalista que seria (de alguma forma) transmitido de geração em geração desde a chegada dos portugueses.
Por muito tempo o mito da brasilidade entravou o reconhecimento amplo da existência de racismo entre nós: o mito da cordialidade e da mistura entre as raças sempre serviu para amenizar as considerações sobre o racismo brasileiro. A força política adquirida pelo tema da discriminação racial, proporcionada pelo aumento do número de negros integrados à sociedade de classes, ou seja, em condições de se organizarem politicamente, nos deu uma vitória sobre o mito da brasilidade. A ideologia da cordialidade nas relações raciais brasileiras foi superada no âmbito do debate político. Desfez-se a névoa que o mito mulato docemente eugenista de Gilberto Freyre lançava sobre esse traço perverso da nossa sociedade que é o racismo. Hoje é um tanto constrangedor dizer que “não há racismo no Brasil”.
Contudo, o

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