Bandarra
O Império por Deus mesmo visto,
Confuso como o Universo
E plebeu como Jesus Cristo.
Não foi nem santo nem herói,
Mas Deus sagrou com Seu sinal
Este, cujo coração foi
Não português, mas Portugal.
Pessoa refere neste poema Gonçalo Anes, sapateiro de Trancoso, que escreveu uns versos de cariz profético na época de D.João III. Neles veem alguns a previsão do periodo de domínio filipino, a Restauração e uma posterior expansão imperial que está na origem próxima da convicção do Padre António Vieira quanto ao advento de um Quinto Império português que teria sido destinado por Deus ("por Deus mesmo visto").
Este que "Deus sagrou com seu sinal"- este, a quem Deus deu o dom da profecia. Gonçalo Anes, o Bandarra (Trancoso, 1500 — Trancoso, 1556) foi um sapateiro e profeta português, autor de Trovas messiânicas que ficaram posteriormente ligadas ao sebastianismo e ao milenarismo português.
As Trovas do Bandarra influenciaram o pensamento sebastianista e messiânico de D. João de Castro, Padre António Vieira, de Fernando Pessoa, entre outros.
Era sapateiro de profissão e dedicou-se à divulgação em verso de profecias de cariz messiânico. Tinha um bom conhecimento das escrituras do Antigo Testamento, do qual fazia as suas próprias interpretações, tendo composto uma série de "Trovas" falando sobre a vinda do Encoberto e o futuro de Portugal como reino universal. Por causa disso, foi acusado e processado pela Inquisição de Lisboa, desconfiada de que suas Trovas contivessem marcas de Judaísmo. Foi inquirido perante este tribunal, condenado a participar na procissão do auto-de-fé de 1541 e também a nunca mais interpretar a Bíblia ou escrever sobre assuntos da teologia. Apesar da grande aceitação de suas Trovas entre os cristão-novos, não se sabe ao certo se era ou não de ascendência judaica. Após o julgamento voltou para Trancoso, onde viria a morrer, provavelmente, em 1556.
Fernado Pessoa apresenta Bandarra como o grande profeta do