Bachelard
p. 165). Para comprovar o pensamento de Bachelard está Pablo Neruda, com suas Odes elementares, em que trata o vinho, o pão, o tomate, a cebola como verdadeiros universos.
Abaixo se lê, na íntegra, pela beleza irresumível, a Ode à cebola.
Cebola
Luminosa redoma pétala a pétala cresceu a tua formosura escamas de cristal te acrescentaram e no segredo da terra escura se foi arredondando o teu ventre de orvalho.
Sob a terra foi o milagre e quando apareceu o teu rude caule verde e nasceram as tuas folhas como espadas na horta, a terra acumulou o seu poderio mostrando a tua nua transparência, e como em Afrodite o mar remoto duplicou a magnólia levantando os seus seios, a terra assim te fez cebola clara como um planeta a reluzir, constelação constante, redonda rosa de água, sobre a mesa das gentes pobres. Generosa desfazes o teu globo de frescura na consumação fervente da frigideira e os estilhaços de cristal no calor inflamado do azeite transformam-se em frisadas plumas de ouro. Também recordarei como fecunda a tua influência, o amor, na salada e parece que o céu contribui dando-te fina forma de granizo a celebrar a tua claridade picada sobre os hemisférios de um tomate.
Mas ao alcance das mãos do povo regada com azeite polvilhada Nau Literária
8 Karina de Castilhos Lucena com um pouco de sal, matas a fome do jornaleiro no seu duro caminho.
Estrela dos pobres, fada madrinha envolvida em delicado papel, sais do chão eterna, intacta, pura como semente de um astro e ao cortar-te a faca na