Autopsicografia
Prof. António A lves
Análise do poema
“Ó sino da minha aldeia”, de Fernando Pessoa
Tema: o passado
A "aldeia" surge como espaço de intimidade, metáfora da interioridade do poeta.
A "alma" concentra os momentos temporais - a audição do som é como que uma síntese dos momentos vividos, feita pela memória.
O tempo pessoano é constituído por uma série de momentos que não se excluem, que aparecem em simultâneo, na sua memória - a saudade traz o passado, que se torna presente.
A associação "alma" / tempo implica a abolição do tempo cronológico, instaura-se um tempo subjetivo, que condiciona a vivência da realidade.
Características estilísticas:
Adjetivação
Os adjetivos "dolente" e "calma" remetem para a durabilidade do som, que não se apaga na memória do poeta. Ó sino da minha aldeia,/Dolente na tarde calma,/Cada tua badalada/Soa dentro da minha alma.
O adjetivo "lento", associado ao vocábulo "soar", no verso "E é tão lento o teu soar", insere a constatação de uma unidade de fragmentos temporais que não adquirem uma significação própria, enquanto momentos isolados.
Os determinantes
Os determinantes possessivos traduzem a interação "alma" / tempo, a perce ção temporal encarada de uma forma subjetiva.
Metaforicamente, estes sugerem, igualmente, a união espaço exterior/espaço interior.
"Cada tua badalada" - espaço exterior / "Soa dentro da minha alma" - espaço interior
O advérbio
O advérbio remete para a saudade - o tempo anterior absorve o presente; até o futuro tem a dimensão de passado. "Que já a primeira pancada / Tem o som de repetida."
O vocábulo "errante" (que apresenta um valor adverbial, porque remete para a forma como o poeta
"passa") aponta para a ideia de que o som da badalada do sino é uma criação do próprio poeta, que lhe acrescenta a sua carga emocional - o som remete sempre para a mesma sensação (a saudade).
O nome
O nome "céu", no verso "Vibrante no céu aberto" sugere a