AUTOBIOGRAFIA

AUTOBIOGRAFIA

Eu, de nome Rui António Reto Siquenique, nasci a dezoito de Janeiro de mil novecentos e setenta, de parto natural, em casa(tal como todos os meus irmãos). Filho de Joaquim Siquenique e Maria Reto, trabalhadores rurais e analfabetos.
Os meus pais, naturais de Redondo, mudaram-se para Évora em busca de uma vida melhor já com quatro filhos. Eu fui o quinto. O primeiro nascido em Évora, sucedido de um outro irmão três anos mais tarde. Vindo de uma família com poucos recursos, as minhas primeiras memórias assentam em carências, principalmente no vestuário, sendo muitas vezes os vizinhos a ajudar-nos. O meu pai conseguiu trabalho numa fábrica perto de casa e a minha mãe cuidava dos seis filhos, todos pequenos.
Até aos sete anos de idade não guardo muitas recordações, talvez tenham ficado recalcadas em virtude da tragédia que se abateu sobre nós: foi detetado um tumor ao meu pai que resultou num internamento em Lisboa e posterior falecimento. Fiz sete anos dia dezoito e o meu pai faleceu a vinte seis de Janeiro. As memórias que guardo dessa altura são dos dias terríveis de choro e tristeza ao longo da fase de internamento e ainda pior após o funeral. Muitos dos meus tios residentes em Redondo frequentavam a minha casa com uma permanente demonstração de dor. Ficou gravado o que me forçaram a fazer perante a minha mãe depois da notícia do falecimento: como a minha mãe é surda, no meio de todo aquele pranto quiseram que eu chorasse alto para a minha mãe ouvir e eu não era capaz. Só baixinho. Ficou marcado! Muitas outras coisas ficaram…
O meu irmão mais velho tinha treze anos e o mais novo tinha três. A minha mãe foi forçada a ser pai e mãe em simultâneo, trabalhando em tudo o que surgia(trabalhos agrícolas e domésticos). Nós, filhos, começámos a trabalhar logo nessa altura, exceto o mais novo. Os mais velhos a tempo inteiro e os mais novos nas férias escolares. Trabalhei num Telheiro(produção de tijolos) perto de casa desde os nove anos de idade.
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