Auto da Índia
Até hoje, Gil Vicente ainda é a personalidade mais importante do teatro português. Alguns críticos o consideram o fundador do teatro em Portugal, e outros como o responsável por consolidar essa forma artística no país. Em alguns textos pré-vicentinos, podemos encontrar elementos teatrais, mas o “que lhes falta é a aliança indissociável de um texto e da representação do actor – porque é isso que constitui o verdadeiro teatro” (TEYSSIER, p.32), ora apresentam diálogos desprovidos de espetáculo ou, ao contrário, espetáculos desprovidos de diálogo. É Gil Vicente que une os dois elementos dentro da mesma obra de arte. O certo é que a obra de Gil Vicente influenciou a produção teatral posterior e as suas peças ainda são encenadas com sucesso mais de quinhentos anos depois.
Pouco se sabe da biografia de Gil Vicente. Não se pode afirmar com exatidão as datas de nascimento e morte do autor, o que sabemos é que ele fez toda a sua carreira como personagem oficial da corte durante os reinados de D. Manuel (1495-1521) e D. João III (1521-1557). Nesse período, Gil Vicente escreveu peças para serem apresentadas diante da corte e com esse público em mente é que a sua obra foi concebida. Foi o grande protegido da rainha Leonor, “a rainha velha”, viúva de D. João II e conhecida pela sua grande religiosidade. Muitas das suas peças foram apresentadas diante da rainha. Era comum que escrevesse para comemorar casamentos, nascimentos, visitas solenes ou qualquer outra data importante para a família real.
Durante os reinados de D. Manuel e D. João III, Portugal atinge o seu apogeu econômico com as Grandes Navegações e os Descobrimentos. Diferentemente de outros países europeus, há um processo de concentração de poder nas mãos do rei no período, já que a exploração econômica ultramarina era monopólio da Coroa. A riqueza trazida por esses empreendimentos não representou uma mudança de pensamento do governo português, que tinha uma ideologia feudal, guerreira e católica. Por