Auto da Comparecia x Auto da Barca do Inferno
Dentre as personagens que atuam nessa trama, estão o Padeiro e sua mulher, o Padre, o Sacristão, o Bispo, o cangaceiro Severino, o Major Antônio Morais. Ao longo da peça, o autor fixa certas linhas de força que caracterizam bem o teatro brasileiro, especialmente o nordestino. Uma dessas linhas de força é a carga religiosa, especificamente o catolicismo, que se articula na lógica interna da peça, por meio do binômio “bem e mal”. Trata-se, na verdade, de um desdobramento da forte cultura religiosa do nordestino, que se apega a Deus e teme as influências do mal. Essa intervenção do elemento religioso deriva também da tradição do teatro medieval (ou mesmo vicentino), já que durante a Idade Média as manifestações artísticas estiveram sempre vinculadas à Igreja.
Ao resgatar essa tradição teatral medieval, Ariano Suassuna realiza uma leitura da moral católica muito ajustada aos tipos que cometem gestos transgressores. Outra linha de força de "Auto da Compadecida", é a presença do anti-herói ou herói quixotesco, uma espécie de personagem folclórica que vive ao sabor do acaso e das aventuras. João Grilo é esse típico anti-herói, que se envolve com as mais diversas personagens e se compromete com as próprias mentiras. No entanto, é através dele que o autor propõe um exame dos valores sociais e da