Auto da barca do inferno
GIL VICENTE
Obra anotada e atualizada para a grafia do português corrente pela equipa da Luso-Livros
Esta obra respeita as regras do Novo Acordo Ortográfico
A presente obra encontra-se sob domínio público ao abrigo do art.º 31 do
Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos (70 anos após a morte do autor) e é distribuída de modo a proporcionar, de maneira totalmente gratuita, o benefício da sua leitura. Dessa forma, a venda deste e-book ou até mesmo a sua troca por qualquer contraprestação é totalmente condenável em qualquer circunstância. Foi a generosidade que motivou a sua distribuição e, sob o mesmo princípio, é livre para a difundir.
Para encontrar outras obras de domínio público em formato digital, visite-nos em: http://luso-livros.net/
Auto de moralidade criado por Gil Vicente em dedicação à sereníssima e muito católica rainha Leonor, nossa senhora, e representado, por sua ordem, ao poderoso príncipe e muito alto rei Manuel, primeiro de Portugal deste nome.
Começa a declaração e argumento da obra:
Primeiramente, no presente auto, pressupõem-se que, no momento em que acabamos de morrer, chegamos subitamente a um rio, o qual, por força, teremos de passar num dos dois batéis que estão atracados num porto. Um deles vai em direção ao paraíso e o outro para o inferno. Os tais batéis têm, cada um, os seus comandantes na proa: o do paraíso um anjo, e o do inferno um comandante infernal e um companheiro.
O primeiro interlocutor é um Fidalgo que chega com um Pajem, que lhe segura um manto muito comprido com uma mão e uma cadeira de espaldas com a outra.
O comandante do Inferno começa o seu pregão mesmo antes do Fidalgo se aproximar. DIABO
À barca, à barca, venham lá!
Que temos gentil maré!
– dirigindo-se ao companheiro –
Ora põe o barco à ré! (vira a traseira do barco)
COMPANHEIRO DO DIABO
Está feito, está feito!
DIABO
Bem feito está!
Vai agora, em má hora,
Esticar aquele