Auto da Barca do Inferno
“O Auto da Barca do Inferno” representa o juízo final católico de forma satírica e com forte apelo moral aos valores defendidos pela Igreja de modo a realizar uma própria crítica a sociedade em que Gil Vicente, ator do texto, vivia.
O cenário é constituído por uma espécie de porto no qual encontram-se a barca que levará os merecedores ao céu e a barca que levará os pecadores ao inferno. Os personagens chegam um atrás do outro e basicamente defendem o porque têm de ir para o Céu. O anjo e o Diabo se fazem presentes como ferramentas argumentadoras uma vez que o primeiro apresenta a sentença final do morto e o segundo manipula-o a ir para a sua barca. Cada personagem que chega ao porto carrega uma coisa com sigo, representando um valor que é prezado por este ou a sua cultura. Deste modo, os personagens, a sua destinação final, o objeto carregado, o argumento apresentado para ir ao Céu e a causa da ida ou não para o inferno, encontra-se a seguir:
1. Fidalgo (nobreza) – traz consigo , O personagem afirma que deixou na Terra muitas pessoas rezando por ele (que haviam sido pagas para isso) e que por esse motivo deveria ir para o Céu já que estaria retirando seu pecados. No entanto, o anjo afirma que tal cerimonia não seria considerada um ato de arrependimento e o homem acaba indo ao inferno por acusações de tirania e luxuria. Ademais, quando o personagem dirige-se para a barca do Diabo, implora para este a chance de rever sua amada mulher, a qual estaria sofrendo profundamente por sua perda. Entretanto, o representante do inferno ri de sua cara e afirma que a mulher o havia enganado e estaria festejando a sua passagem.
2. Onzeneiro – traz consigo, O personagem afirma que a barca do Anjo vai vazia e que, portanto, deveria ir nesta. No entanto, o Anjo afirma que este deveria ir para o Inferno por ganância e avareza uma vez que cobrava de pobres pessoas juros extorsivos e injustos e que sua cobiça ocuparia o barco inteiro. Ademais,