Auschwitz em Terras Brasílicas
EXCURSOS SOBRE O ANALFABETISMO NO
BRASIL
Rosi Giordano (1)
Clara Azevedo Reis (2)
Resumo: Este ensaio, buscando seus aportes na Filosofia, analisa as políticas voltadas à erradicação do analfabetismo, pensando-as a partir dos nexos entre liberdade, emancipação e política, no interior da atual configuração do Estado brasileiro. As proposições de Adorno, desde a valorização da experiência na relação sujeito-objeto às vivências espirituais, figuram, aqui, como mediações possíveis para a compreensão e o enfrentamento da barbárie que persiste entre nós. Palavras-chave: Filosofia; Escola de Frankfurt; Políticas de erradicação do analfabetismo; Exclusão Escolar; Educação e Emancipação.
O CENÁRIO
Um dos primeiros cronistas da colonização portuguesa na América, Pero de
Magalhães Gandavo, escreveu que os índios do litoral brasileiro não tinham as letras „F, nem L, nem R‟, não possuindo „Fé, nem Lei, nem Rei‟ e vivendo
„desordenadamente‟. Essa suposição de uma ausência lingüística e de „ordem‟ revela [...] o ideal de colonização trazido pelas autoridades civis e eclesiásticas portuguesas: superar a „ desordem‟, fazendo obedecer a um Rei, difundindo uma
Fé e fixando uma Lei. [...] Mas, F, L e R enfrentaram muitas resistências na
América, decerto mais do que no Reino, motivo pelo qual os agentes d‟el-rei repetiram constantemente que os povos do Brasil eram „bárbaros‟, deslocando ou estendendo essa pecha dos indígenas para outros sujeitos históricos e, com isso, legitimando a continuidade da colonização. (VILLALTA, 1997, p. 332. Grifo nosso). Pensar a erradicação do analfabetismo implica, fundamentalmente, pensar a possibilidade da liberdade, dado a história social do homem ter seu início no processo de individuação, processo por meio do qual o homem percebe-se a si próprio como distinto do mundo que o rodeia, independente (3) dos laços originais que o unem ao mundo natural e social do qual emerge. Fromm (1970, p.