augustine
Inverno de 1885, Paris. O professor Jean-Martin Charcot (Vincent Lindon), do Hospital Pitié-Salpêtriere, está estudando uma doença misteriosa, a histeria, que atinge apenas as mulheres. Devido à pouca informação sobre a doença e suas características peculiares, os ataques de histeria por vezes são confundidos com possessões demoníacas, o que faz com que Charcot tenha que provar a seriedade de sua pesquisa. Um dia, chega ao hospital a jovem Augustine (Soko), de apenas 19 anos, que teve um ataque durante o trabalho. Logo ela se torna objeto de estudo de Charcot, que passa a dedicar um bom tempo à garota. Augustine acredita que Charcot possa curá-la e, aos poucos, desenvolve uma relação especial com o médico.
A historiadora e psicanalista Elisabeth Roudinesco escreveu, não sem uma pitada de bom humor, que “se Freud se deitasse com suas pacientes, não teria descoberto a transferência.”
No ensaio que dá título ao livro de outro psicanalista, Don Juan e suas Máscaras, de Renato Mezan, ele compara o apaixonamento de uma paciente por seu psicanalista com uma cena cômica da ópera Don Giovanni, de Mozart e Lorenzo Da Ponte. Don Juan veste as roupas de seu criado para seduzir uma empregada de Doña Elvira, uma dama que ele havia conquistado anteriormente e pela qual, agora, não tinha mais interesse (como sempre: após ser bem sucedido na sedução, ele descartava a mulher que conquistara). Por sua vez, o criado Leporello vestirá as roupas de Don Juan para entreter Elvira que, ainda apaixonada por Don Juan, como está muito escuro, é de noite, toma as vestes pelo proprietário das mesmas e acredita que o sedutor voltou a se interessar por ela. Mezan vai direto ao ponto: o terapeuta que acreditar que sua paciente está de fato apaixonada por ele mesmo não passaria de um Leporello que acreditasse que as roupas de Don Juan fizeram-no objeto de amor. Mas até o criado sabe que Doña Elvira estava apenas “transferindo” para ele o afeto que sentia, de fato, por seu