Atualidade do pensamento de élisée reclus
Manuel Correia de Andrade
Professor Catedrático de Geografia Econômica da Universidade Federal de Pernambuco
In: Élisée Reclus – Coleção Grandes Cientistas Sociais, coordenada por Florestan Fernandes em 1985 , editada pela Editora Ática
Para melhor compreender a importância da obra geográfica de Élisée Reclus, torna-se necessário situar o Autor no espaço e no tempo. Vivendo na Europa do século XIX, teria fatalmente que ser influenciado pelos acontecimentos que se desenrolaram naquele continente, no momento histórico em que viveu, quer como cientista, quer como cidadão. Vivendo e observado os problemas políticos, preocupou-se com a estrutura da sociedade, com o papel desempenhado pelo Estado, com a expansão do capitalismo europeu no mundo, com as relações entre a sociedade civil e a Igreja e ainda com o que se chamava então de progresso. Teve, assim, de tomar posição frente ao positivismo comtiano, ao evolucionismo e ao marxismo, participando ativamente do movimento anarquista. Pode-se mesmo afirmar que a sua vida foi dividida em duas direções: a política, dedicada ao pensamento e a ação anarquista, e a cientifica, dedicada ao conhecimento geográfico. Atuando ou escrevendo, utilizou sempre as duas vertentes: a do cidadão, revolucionário e libertário, e a do cientista, consciencioso e competente.
O pensamento geográfico no século XIX
A contribuição de Reclus ao desenvolvimento da geografia só pode ser estudada situando-o diante do pensamento geográfico dominante na segunda metade do século XIX. Na verdade, admite-se que a geografia formou-se como ciência autônoma, na primeira metade do século XIX, graças aos trabalhos desenvolvidos por dois sábios alemães, Alexander von Humboldt e KarI Ritter. Isto não quer dizer que se deva renegar todo um conhecimento geográfico elaborado desde a Antigüidade e já consolidado na velha Grécia por