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1 Uma das maiores governantes da história da África, a rainha obrigava seus amantes a se fantasiarem de mulher
1 Por Gilberto Stam
O maior símbolo da resistência africana à colonização foi uma mulher. Rainha do Ndongo, atual Angola, Nzinga Mbandi (1582-1663) entrou para a história como combatente destemida, exímia estrategista militar e diplomata astuciosa. Ela chefiou pessoalmente o exército até os 73 anos de idade e era tão respeitada pelos portugueses que Angola só foi dominada depois da sua morte, aos 81 anos.
Falar de Nzinga é falar de um mundo ao mesmo tempo muito distante e muito próximo. Ela nasceu entre os africanos de língua bantu, os mesmos que, escravizados no Brasil, criaram o samba e a capoeira. Seu povo está, portanto, na raiz da nossa identidade nacional. A sociedade a que ela pertencia, no entanto, é bem pouco conhecida.
Como se a invasão lusitana não bastasse, o reino de Ndongo tinha que se defender dos ataques de inimigos mais tradicionais: os jagas, um povo de guerreiros saqueadores. Ainda assim, as guerras não eram a única dor de cabeça da heroína Nzinga Mbandi (pronuncia-se inzinga imbandi). Ela também teve de aturar forte oposição interna por ser mulher e ter como mãe uma escrava – mancha grave em sua ficha, já que todo o poder, no reino, se baseava nas relações de parentesco. Nzinga fora criada pelo pai, o rei Jinga Mbandi, para ser uma rainha guerreira. Mas, quando ele morreu, em 1617, foi o irmão dela, Kia Mbamdi, quem assumiu o trono. Começou, então, uma agitada luta pelo governo de Ndongo. Uma das primeiras medidas de Kia foi matar o filho único de Nzinga, concorrente em potencial. Ela mesma só virou rainha em 1624, após o assassinato de Kia durante uma das piores crises do reino, quando o Ndongo rapidamente perdia terreno para os portugueses.
É claro que não faltaram más línguas para insinuar que teria sido Nzinga a responsável pela morte do rei.
Foi ele, seu próprio irmão, quem abriu as portas