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Introdução
Todos sabemos que o português se originou, em sua essência, do latim, embora essas duas línguas se apresentem extremamente diferentes em muitos aspectos, sobretudo no que se refere à sintaxe e à morfologia. Assim, muitas vezes, observações feitas a respeito do latim “servem” também para explicar fenômenos referentes à língua portuguesa, o que não é de se estranhar, dada essa relação genética que liga as duas línguas. Por outro lado, se pensarmos que, quando se aprende uma nova língua – e o latim é, queiramos ou não, uma nova língua para nós –, é inevitável que se utilize (conscientemente ou não), a fim de entendê-la, analisá-la e assimilá-la, dos conhecimentos lingüísticos e metalingüísticos de que dispomos a respeitos de nossa própria língua, pode-se dizer também que algumas observações ou análises que fazemos a respeito do português podem “servir” para entendermos ou estudarmos fenômenos do latim. É com essa crença que pretendo apresentar, neste trabalho, alguns mecanismos de coesão textual em língua latina, servindo-me dos estudos modernos sobre o tema feitos a respeito do português e de outras línguas modernas. A adoção deste meu método de análise – uma espécie de caminho inverso – pode parecer estranha, mas se justifica se se verifica que a maior parte dos estudos sobre coesão textual foram produzidos nos últimos trinta anos, quando a Lingüística Textual se estabeleceu como ciência (Koch, 2002: 150), de modo que seria muito difícil estudar, baseando-se em gramáticos, retóricos ou filósofos da Antigüidade, a atuação em latim de um fenômeno que, embora sempre tenha existido, teve sua conceituação formulada recentemente. Não estou querendo, com isso, ignorar a contribuição dos antigos para os estudo da Lingüística Textual e da Lingüística como um todo, já que, como sabemos, a própria análise gramatical tem sua origem na Antigüidade – quando o latim, sobretudo, era objeto desses estudos –, e a maior parte da