Ato inseguro
Fábio de Oliveira2
A persistência da noção de ato inseguro e a construção da culpa: os discursos sobre os acidentes de trabalho em uma indústria metalúrgica1
The persistence of the notion of unsafe act and the construction of blame: the discourses on work accidents at a metallurgic industry
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Artigo baseado na dissertação de mestrado A construção social dos discursos sobre o acidente de trabalho, defendida em 1997 no Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo-SP. Doutor em Psicologia Social. Psicólogo do Centro de Psicologia Aplicada ao Trabalho do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Docente da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Coeditor dos Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo-SP. Apoio financeiro da Fapesp: processos 95/1718-2 e 1996/2062-6 (bolsa de mestrado)
Resumo
Acidentes de trabalho (ATs) são conseqüências das formas pelas quais as sociedades produzem suas condições de existência e constituem-se como objetos sociais a partir de construções teórico-práticas. Tem-se constatado a existência de concepções calcadas em fatores pessoais ou psicológicos que responsabilizam os trabalhadores pelos ATs. Investigou-se a presença dessas concepções nas práticas discursivas de trabalhadores, procurando identificar os repertórios interpretativos e seus aspectos retóricos e argumentativos via análise de discurso. Realizou-se estudo de caso de empresa metalúrgica com base em observações, conversas informais, levantamento de documentos e entrevistas confrontativas com 20 operários. Constatou-se a presença marcante, nos modos de compreensão dos ATs, da Teoria dos Dominós e a predominância das explicações pelos atos inseguros, sustentadas pela naturalização dos riscos e por práticas institucionalizadas de difusão. No entanto, a construção discursiva dos ATs acontece de maneira dilemática, existindo contradições