atividades loucas
6:19-25, 1983.
REFLEXÕES SOBRE "PENSAMENTO TRADICIONAL"
E "PENSAMENTO SELVAGEM"
Silvia M . S . C A R V A L H O *
RESUMO: Este artigo encaminha a análise do pensamento tradicional, ressaltando a importância dos estudos das representações nas práticas tradicionais, particularmente no setor da medicina popular.
Aponta as possibilidades que estes estudos oferecem, não só no sentido da recuperação de conhecimentos, como no de uma retomada das discussões teóricas sobre "pensamento selvagem" e "pensamento domesticado". UNITERMOS: Práticas tradicionais; religião; medicina popular; lógica; nal"; "pensamento selvagem"; "pensamento domesticado".
A dificuldade de se estudar certos setores da cultura — os das representações religiosas, da medicina popular com suas simpatias e rezas, onde o pensamento mágico parece irromper nas mais contraditórias superstições — está em que estes são justamente os setores mais resistentes às transformações e mesmo transformados o são, de tal modo que a sua compreensão depende de uma verdadeira dialética da lógica, implicando no conhecimento de uma lógica anterior, certamente précapitalista.
O conjunto das representações que chamamos de " m á g i c o - r e l i g i o s a s " constitui-se em torno de um cerne que implica a própria autodefinição do grupo, pois é esta autodefinição que determina o modelo segundo o qual ele (grupo: "humanidade" ou parcela dela) se sente inserido no Universo, opondo-se ou não à Natureza inteira, mas ligado a ela por determinadas mediações, que são como os fios invisíveis que lhe permitem um certo equilíbrio e a sensação de permanência, sensação esta imprescindível para que o
"pensamento tradicio-
ser humano continue sonhando, planejando e agindo.
Já que a fé nos deuses — mediadores, por excelência, entre o humano e o nãohumano — é, em grande parte, a garantia da permanência desse modelo e do próprio grupo (que jamais consegue controlar inteiramente mesmo