associativismo
Prima facie, uma sociedade rica em vida associativa por contraste com um agregado indiferenciado de indivíduos que trocam bens e serviços evoca a imagem de uma comunidade que se autogoverna, que faz democracia "com as próprias mãos". Mas, se a idéia de democracia envolve a condição, moralmente mais exigente, de igualdade política, será necessariamente virtuosa a relação entre associativismo e democracia? De que maneira, por exemplo, a presença de importantes e persistentes desigualdades na trama social interage com o ativismo associativo e afeta a condição de igualdade política?
O exame da literatura revela um conjunto de problemas, emergentes, sobretudo das relações antigas e íntimas entre apatia política e desigualdades socioeconômicas. Esses problemas recomendam cautela com relação à postulação de um vínculo automático entre densidade associativa e democracia. Ou, mais propriamente, com relação a uma imputada "benignidade política" da vida associativa, reputação esta adquirida por conta de sua alegada qualidade de redutora de desigualdades políticas. A bem da verdade, esse ceticismo nutre-se, em parte, da complicação introduzida pelas desigualdades socioeconômicas no cenário, de outro modo quase plácido, das relações entre associativismo e igualdade política; em parte, de limites próprios ao associativismo.
Tenho em mente dois problemas específicos. Por um lado, quando as desigualdades socioeconômicas são "duráveis" e elevadas é bem plausível que se repliquem no interior da vida associativa, bem como entre grupos organizados e não organizados, enfraquecendo a habilidade de inclusão política da participação associativa. Além disso, não parece claro que a intensificação da vida associativa conduza a uma redução das desigualdades sobre as quais se plasma. Esse é o tipo de interação entre associativismo, desigualdades e democracia que põe em dúvida sua relevância para incrementar a igualdade política.
Por outro lado, há evidências