Aspectos socioeconômicos do lixo urbano
Hoje, lixo é luxo, como escreveu um dia o poeta concreto Augusto de Campos. Virou “resíduo sólido”, algo que pode ser reaproveitado, reciclado. Vale dinheiro, gera emprego, movimenta a economia. Alguém pode até argumentar – com certa razão – que ganhou esse significado porque a sociedade percebeu que precisava se preocupar um pouco mais com o meio ambiente, com o impacto diário de toneladas de lixo em áreas impróprias, em aterros improvisados, contaminando o subsolo.
Mas não há como negar o aspecto econômico. Lixo virou resíduo sólido porque seu reaproveitamento se tornou rentável. O melhor exemplo é o da lata de alumínio, que aqui no Brasil, ao longo dos últimos 10 anos tem o maior índice de reciclagem do planeta com percentuais bem próximos dos 100%. Claro, há benefícios ambientais. Com a reciclagem da lata gasta-se menos energia, menos matéria-prima, emite-se menos CO2. Mas, acima de tudo, percebeu-se que a lata usada tem valor. Um quilo de alumínio de lata descartada, vale a mesma coisa que um quilo de arroz!
Ora, alguns perceberam isso antes que outros, por necessidade. Na ausência de empregos formais, catadores descobriram um emprego informal. Encontraram no lixo descartado o dinheiro necessário para pagar as despesas básicas. Sem perceber, passaram a dizer para a sociedade que aquele trabalho informal pode se tornar legal. Há pouco mais de 20 anos, os catadores criaram as primeiras cooperativas, há 10, ganharam, oficialmente, o reconhecimento de que são uma atividade econômica, como qualquer outra. Homens e mulheres, até então invisíveis aos olhos da sociedade, tiveram sua atividade reconhecida na nova versão da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), em vigor desde outubro de 2002.
Mas, infelizmente, ainda são vistos com olhares desconfiados. Não é raro encontrar, por exemplo, quem associe o sucesso da atividade de reciclagem no Brasil à pobreza da população, principalmente daquela parte que vive nas ruas.