Aspectos históricos, filosóficos e sociológicos da deficiência
Na Antiguidade a diferença era entendida entre o Ser e o Ente, onde o Ser representa a existência e o não-Ser, a não- existência. Com isso, nessa época, eram considerados Seres apenas os nobres, os homens livres e o Clero. Os demais, escravos, bárbaros e conquistados, eram considerados não-Seres. Duas outras distinções utilizadas para designar o Ser merecem destaque: o uso predicativo e existencial. No primeiro caso, por exemplo, se diz: “João é homem” ou “A casa é branca”; no segundo, “João é = existe” ou “A casa é = existe” (ABBAGNAMO, 1962, p. 846). Além disso, a diferença entre os Seres era vista como dependência, negatividade. Um não é o Outro, são diferentes. A diferença era explicada em função do predicado e não da existência do Ser.
O segundo entendimento de diferença surge com o florescimento da ciência moderna, centrado no racionalismo e no discurso científico. O Eu racional passou a predominar na relação com o Outro. A máxima de Descartes, “Penso, logo existo”, deixa clara a centralidade do Eu nas relações. A diferença não pode mais ser discutida tendo como referência o Ser e o Não–Ser, sobretudo, porque os indicadores dessa diferença desapareceram com os avanços sociais. Escravos, bárbaros, clero e nobreza deixaram de existir na maioria dos Estados mundiais. Novos padrões eram necessários para diferenciar os Seres. O desenvolvimento científico surge, então, como forma de comprovar, principalmente nas áreas da biologia e psicologia, várias distinções físicas, biológicas e psicológicas dos seres humanos, que, até então, eram percebidas apenas empiricamente. Nunca, na história, os homens foram tão medidos e quantificados. Testes de inteligência, de condição física, de capacidade motora e muitos outros foram desenvolvidos e implementados visando dar à diferença um cunho científico e