Aspectos da migração em Carta ao bispo e Adeus, velho, de Antônio Torres
Nos romances Adeus, velho (de 1981) e Carta ao bispo (de 1979), de Antônio Torres, a intriga se constrói com base na questão da migração do sertanejo do interior da Bahia para os grandes centros urbanos, movidos pela expectativa de melhores condições de sobrevivência. Adeus, velho narra o processo de desagregação de uma família de sertanejos em virtude da fuga de seus integrantes para as cidades. Em Carta ao Bispo, o protagonista Gil é apresentado como um sertanejo politicamente engajado e idealista que luta para fazer com que sua região se desenvolva economicamente, a fim de tentar impedir que seus conterrâneos abandonem a terral natal.
Dadas as semelhanças no aspecto temático, o objetivo deste trabalho consiste em demonstrar, a partir da análise do conteúdo memória dos protagonistas, de que maneira é retratada, nesses romances, a situação do retirante sertanejo, tanto no campo quanto na cidade, e as semelhanças e discrepâncias entre esses dois espaços por onde os personagens transitam. Pretende-se, desse modo, além de mostrar como os dois romances retratam os problemas sociais que atingem o sertanejo, evidenciar o posicionamento diverso dos protagonistas dos dois romances diante da questão da migração.
Para a realização de tal tarefa, serão empregadas como aporte crítico-teórico, principalmente, as abordagens de teor sociológico de Walter Benjamin e de Maurice Halbwachs em relação à memória e as relações entre espaço, cultura e identidade estabelecidas por Stuart Hall
Adeus, velho apresenta a história de uma numerosa família de um vilarejo do interior da Bahia, que vai se desmembrando com a migração dos filhos para as cidades mais desenvolvidas, tendo que se reunir depois de muito tempo, no mesmo lugar de partida, em virtude da morte do pai. Um narrador onisciente, em terceira pessoa, perscruta a memória de dois dos filhos, Mirinho e Virinha, já maduros, para contar a