Asfalto
A menina das trancas loiras olhou para ele,sorriu e estendeu a mao .
-combinado?
-combinado - disse ele.
Riram-se os dois e continuaram a andar,pisando as flores violetas que caiam das arvores.
-neve cor de rosa - disse ele.
-mas tu nunca viste neve...
-pois nao,mas creio que cai assim...
-E branca,muito branca...
-como tuǃ
E um sorriso triste aflorou medrosamente os labios dele.
-Lembra-te da nossa combinacao.Nao mais...
-Sim,nao mais falar da tua cor.Mas quem falou primeiro foste tu.
Ao chegarom a ponta do passeio ambos fizeram meia volta e vieram pelo mesmo caminho.
A menina tinha trancas loiras e lacos vermelhos.
-marina,lembras-te da nossa infancia? –e voltou-se subitamente para ela.
Olhou-a nos olhos. A menina baixou o olhar para a biqueira dos sapatos pretos e disse:
-Quando tu fazias carros com rodas de patins e me empurravas a volta do bairro?
-sim,lembro-me...
A pergunta que o perseguia ha meses saiu finalmente.
-E tu achas que esta tudo como entao?
-como brincavamos a barra do lenco ou as escondidas? Quando eu era teu amigo Ricardo,um pretinho muito limpo e educado,no dizer da tua mae?achas... E com as proprias palavras ia se excitando.
Os olhos brilhavam e o cerebro ficava vazio porque tudo o que acumulava saia numa torrente de palavras
-...que eu possa continuar a ser teu amigo...
-Ricardoǃ
-Que a minha presenca em tua casa...no quintal de sua casa,poucas vezes dentro delaǃ,nao estragara os planos da tua familia a respeito das tuas relacoes...
Estava a ser cruel.Os olhos azuis de Marina nao lhe diziam nada.Mas estava a ser cruel.
O som da propria vos fe-lo ver isso.calou-se subitamente.
-Desculpa-disse por fim.Virou os olhos para o seu mundo.Do outro lado da rua asfaltada nao havia passeio.nem arvores de flores violetas.a terra era vermelha.piteiras.Casas de pau-a-pique a sombra de mulembas.As ruas de areia sinuosas. Uma tenue nuvem de poeira que o vento levantava,cobria tudo.A casa dele