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O povoamento dos Açores iniciado ainda no segundo quartel do século XV, prende-se com os mesmos desígnios socioeconómicos e geopolíticos da expansão ultramarina, que motivaram a descoberta do arquipélago. De facto, após a conquista de Ceuta em 1415, a ocupação de Marrocos agrava irremediavelmente a carência cerealífera de Portugal, vindo as ilhas açorianas a transformar-se no principal celeiro do reino e das praças do Norte de África. Do mesmo modo, a contínua exploração da costa ocidental Africana impõe a navegação pelo mar alto, que sobrevaloriza o posicionamento geográfico dos Açores no Atlântico. Por último, na segunda metade da centúria de Quatrocentos, as suspeitas de existência de terras o ocidente dos Açores e a possibilidade aventada por muitos estudiosos de se atingir a Índia, navegando na mesma direcção contribuem também para uma ocupação mais efectiva de todas as ilhas.
A história das primitivas orgânica administrativa e exploração económica do Arquipélago dos Açores ressente-se, entretanto, da escassez de documentação inovadora. Por isso, encontramo-nos cingidos a alguns diplomas régios já divulgados e às informações de vários cronistas nacionais e estrangeiros dos séculos XV e XVI que, embora contemporâneos dos vários empreendimentos marítimos de Portugal, chegaram a veicular notícias díspares. Todavia, presume-se que a ocupação das ilhas enfrentou inúmeras dificuldades, que originam um povoamento demasiado moroso e descontínuo. A comprová-lo relembre-se a súplica de um degredado perpétuo “nas ilhas de S. Miguel” que, em 1453, roga a D. Afonso V a sua transferência, sem comutação de pena, para a cidade de Ceuta “pois as ditas ilhas eram tais para nelas homens poderem viver”.

Avelino Freitas da Menezes, “ Povoamento e Administração”, Oceanos, nº 1 junho de 1989 – Prova Escrita de Português B

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