Asas de um anjo
José de Alencar
Personagens
Luís Viana
Ribeiro
Araújo
Pinheiro
Meneses
Antônio
José
Carolina
Margarida
Helena
Vieirinha
Uma menina
A cena é no Rio de Janeiro, e contemporânea.
Prólogo
(Em casa de Antônio. Sala pobre)
Cena Primeira
(Carolina, Margarida e Antônio)
(CAROLINA defronte a um espelho, deitando nos cabelos dois grandes laços de fita azul. MARGARIDA cosendo junto à janela. ANTÔNIO sentado num mocho, pensativo.)
Carolina — É quase noite!...
Margarida — Que fazes aí, Carolina? Já acabaste a tua obra?... Prometeste dá-la pronta hoje.
Carolina — Já vou, mãezinha; falta apenas tirar o alinhavo. Olhe! Não fico bonita com meus laços de fita azul?
Margarida — Tu és sempre bonita; mas realmente essas fitas nos cabelos dão-te uma graça!... Pereces um daqueles anjinhos de Nossa Senhora da Conceição.
Carolina — É o que disse o Luís, quando as trouxe da loja. Tínhamos ido na véspera à missa e ele viu lá um anjinho que tinha as asas tão azuis, cor do céu! Então lembrou-se de dar-me esses laços... Assentam-me tão bem, não é verdade?
Margarida — Sim; mas não sei para que te foste vestir e pentear a esta hora; já está escuro para chegares à janela.
Carolina — Foi para experimentar o meu vestido novo, mãezinha... Quis ver como hei de ficar quando formos domingo ao Passeio Público...
Margarida — Ora, ainda hoje é terça-feira.
Carolina — Que mal faz!
Margarida — Está bom, vai aprontar a obra; a moça não deve tardar. É verdade!
Cena II
(Margarida e Antônio)
Margarida — Não sei o que tem a nossa filha! Às vezes anda tão distraída...
Antônio — Quantos são hoje do mês, Margarida?
Margarida — Pois não sabes? Vinte e seis.
Antônio (contando pelos dedos) — Diabo! Ainda faltam quatro dias para acabar! Precisava receber uns cobres que tenho na mão do mestre e só no fim da semana... Que maçada!
Margarida — Não te agonies, homem! O dinheiro que deste ainda não se acabou; e hoje mesmo aquela moça deve