As vontades dos vivos. Blimunda e a nuvem fechada
“As vontades dos vivos”
Passados três anos, o padre regressa a Mafra com a informação de que o éter de que necessitam se alcança através das vontades dos vivos:
(…) na Holanda soube que é o éter, não é aquilo que geralmente se julga e ensina, e não se pode alcançar pelas artes da alquimia, para ir buscá-lo lá onde ele está, no céu, teríamos nós de voar e ainda não voamos, mas o éter, dêem agora muita atenção ao que vou dizer-lhes, antes de subir aos ares para ser o onde as estrelas se suspendem e o ar que Deus respira, vive dentro dos homens e das mulheres, Nesse caso, fosse a alma, concluiu Baltasar, Não é, também eu, primeiro, pensei que fosse a alma, também pensei que o éter, afinal fosse formado pelas almas que a morte liberta do corpo, antes de serem julgadas no fim dos tempos e do universo, mas o éter não se compõe das almas dos mortos, compõem-se, sim, ouçam bem, das vontades dos vivos. (Cap. IX, pp. 123/124)
É Blimunda que se encarregará dessa missão, uma vez que tem acesso, pelos seus poderes mágicos, ao interior das pessoas:
Em baixo começavam os homens a descer para os caboucos, onde mal se via ainda. Disse o padre, Dentro de nós existem vontade e alma, a alma retira-se com a morte, vai lá para onde as almas esperam o julgamento, ninguém sabe, mas a vontade ou se separou do homem estando ele vivo, ou a separa dele a morte, é ela o éter, é portanto a vontade dos gomes que segura as estrelas, é a vontade dos homens que Deus respira, E eu que faço, perguntou Blimunda, mas adivinhava a resposta, Verás a vontade dentro das pessoas, Nunca a vi, tal como nunca vi a alma, Não vês a alma porque a alma não se pode ver, não vias a vontade porque não a procuravas, Como é vontade, É uma nuvem fechada, Que é uma nuvem fechada, Reconhecê-la-ás quando a vires, experimenta com Baltasar, para isso viemos aqui, Não posso, jurei que nunca o veria por dentro, Então comigo. (Cap. XI, p.124)
O papel das vontades. Blimunda e a “nuvem